Ideias Políticas e História do Tempo Presente



O projeto de pesquisa analisa o ciclo de governos de esquerda que marcou a América do Sul entre a eleição de Hugo Chávez, em dezembro de 1998, e o golpe contra Dilma Rousseff, em 2016. Este período, que coincidiu com a primeira Onda Rosa, foi caracterizado pela contestação às políticas neoliberais e pela adoção de novas práticas políticas que aproximaram governos, partidos e movimentos sociais. O projeto concentra-se nas investigações sobre a Bolívia, o Equador e a Venezuela — países que representaram a vertente mais radicalizada desse processo — por meio da análise das ideias políticas defendidas por Evo Morales, Rafael Correa, Hugo Chávez e Nicolás Maduro. Vinculado à linha de pesquisa Política e Sociedade do PPGH/UERJ, metodologicamente, o projeto objetiva a realização de uma reflexão histórica comparativa e interconectada dos eixos temáticos analisados, contribuindo, assim, para o debate acadêmico e crítico sobre os (des) caminhos da História Política latino-americana no Tempo Presente.

Coordenador
Prof. Dr. Rafael Pinheiro de Araujo

Membros
Bruno Rodrigues Andrade – Graduando UERJ. Bolsista de Iniciação Científica/UERJ.
Edmilson Alcântara de Barros - LABIMI/UERJ
Eric Patrick Silva de Faria – LABIMI/UERJ
João Carlos Calzavara – UFRJ – Mestrando, bolsista Capes
João Miguel de Oliveira – UERJ - Graduando UERJ
Laura Beatriz Oliveira Bastos – Graduando UERJ – Bolsista do DEPEXT/UERJ
Luiz Felipe dos Santos Narciso – PPGH/UERJ – Mestrando, bolsista Capes
Luiz Fernando de Oliveira – PPGH/UERJ – Doutorando, bolsista FAPERJ
Maria Cllara Barbieri Farina – UERJ – Mestranda – Bolsista Capes e Bolsa PROATEC
Maria Sarah do Nascimento – PPGHC/UFRJ – Doutoranda, bolsista Capes
Miguel Martorelli Coelho – UERJ – Graduando – Bolsista de Monitoria do Cetreina/UERJ
Rodrigo de Souza Coelho – PPGH/UERJ – Mestrando – Bolsista Capes
Thaís Souza Coutinho – PPGHC/UFRJ – Doutoranda
Thiago Pinheiro da Silva – UERJ – Graduação, Bolsista de Monitoria do Cetreina/UERJ

Sobre o projeto:
Entre a primeira eleição de Hugo Chávez para a presidência venezuelana, em dezembro de 1998, e o desfecho do golpe contra Dilma Rousseff, no Brasil, em agosto de 2016, observamos um período da história latino-americana marcada pelo protagonismo dos governos de esquerda. Denominado de Onda Rosa, esse ciclo político caracterizou-se pela heterogeneidade programática, pelo questionamento em relação às práticas políticas e econômicas neoliberais e pela adoção de um novo agir político que reconfigurou o relacionamento entre governos, partidos políticos e movimentos sociais. Este projeto tem como objetivo geral fazer uma análise das Histórias do Tempo Presente de três países latino-americanos – Bolívia, Equador e Venezuela –, bem como uma análise panorâmica da região a partir de 1998. Neste sentido, o eixo central do nosso projeto consistirá na análise comparada dos três países supracitados que compuseram o grupo mais radicalizado dos governos de esquerda no início do século XXI, por meio do estudo das ideias políticas. Para tal, buscaremos as abordagens sobre Democracia Participativa, Revolução e Socialismo do Século XXI defendidas pelos presidentes da Bolívia, Evo Morales (2006-2019); do Equador, Rafael Corrêa (2007-2017); e da Venezuela, Hugo Chávez (1999-2013) e Nicolas Maduro (2013-XXX). Partindo da sistematização dos eixos temáticos propostos, construiremos uma reflexão histórica de base comparativa e interconectada sobre Bolívia, Equador e Venezuela. Esperamos que os resultados dessa pesquisa, que também se vinculam às iniciativas extensionistas, possam contribuir para a elaboração e consolidação das análises do campo da história do tempo presente latino-americana no que tange a abordagem das ideias políticas das esquerdas.

Linha de Pesquisa “História do Tempo Presente da América Latina”

O campo da história do tempo presente consolidou-se nas últimas três décadas em diversos países latino-americanos. Na Argentina, no Brasil, no Chile e no Uruguai, por exemplo, surgiram grupos de pesquisa que reuniram pesquisadores dedicados à produção científica de temáticas vinculadas a esse campo. Contribuíram para isso, entre outras razões, as demandas sociais e midiáticas na abordagem dos mais variados fenômenos históricos. Estas fizeram com que algumas das suas temáticas, como as guerras, as ditaduras ou as revoluções, se popularizassem. As pesquisas e as análises teóricas do campo difundiram-se pela academia latino-americana com o surgimento, entre 1978-1980, e do francês L’Institut d’histoire du temps présent (IHTP). Ele foi inspirado pelo alemão The Leibniz Institute for Contemporary History (Institut für Zeitgeschichte), criado em 1949, e sucedeu o Comitê Francês de História da 2ª Guerra Mundial. O IHTP contribuiu para a institucionalização deste campo e para o seu reconhecimento nas veredas de produção do conhecimento histórico. Além disso, acreditamos que o fortalecimento da relação entre História e Memória também contribuiu para a consolidação do IHTP. O Instituto possuía dois objetivos centrais: trabalhar o passado próximo e pesquisar sobre a História Contemporânea no sentido etimológico do termo, ou seja, o período no qual o historiador vivenciou os acontecimentos que analisa, no qual as testemunhas estão vivas e a memória sobre os eventos, sobretudo os de traumas coletivos, influenciam diretamente na produção historiográfica, como destacou Rousso (2009). No que tange a sua metodologia de trabalho, as especificidades, os objetivos, os métodos e as formas de utilização das fontes, observamos que estas não se distinguiram dos pressupostos consolidados na produção do conhecimento histórico. Apesar de analisar eventos que fazem parte de uma história inacabada e que, portanto, pode ter mudanças e novos significados; e cronologicamente ser marcada por permeáveis fronteiras temporais, o rigor científico exercitado na análise do passado recente não diferencia o trabalho do historiador de um medievalista, por exemplo. A influência da historiografia europeia e as demandas testemunhais, memoriais e sociais sobre as experiências ditatoriais vividas entre as décadas de 1960 e 1980 desencadearam o estabelecimento de centros de estudos dedicados à História do Tempo Presente na América Latina. Não obstante as suas múltiplas nomeações, as pesquisas dedicadas às temáticas desse campo se consolidaram entre os acadêmicos da região a partir da década de 1990. Por isso, acreditamos na pertinência dessa linha de pesquisa, que objetivará contribuir com a difusão de conhecimento acerca da História do Tempo Presente na América Latina. Assim, concentraremos as investigações desta linha de pesquisa nas análises das ditaduras sul-americanas ocorridas entre as décadas de 1960 e 1980; nas lutas dos movimentos sociais latino-americanos nas últimas décadas, nos processos de redemocratização dos anos 80’ do século XX, nas análises dos governos de esquerda das duas primeiras décadas do século XXI e nas reflexões acerca o fortalecimento das direitas latino-americanas a partir de 2013.